Ser-tão Carioca




Sabe-se que o ciclo de festas juninas tem origem nas antigas festividades em que se faziam pedidos de fertilidade e abundância nas colheitas que estariam por vir. No Brasil, por conta do solstício de inverno, foi o período de agradecimento da fartura oriunda da agricultura. Estas festividades se mantiveram como práticas de culto e sociabilidade em diversos arraiais – pequenos lugarejos interioranos –, com suas devidas particularidades, pelo Brasil.

No município do Rio de Janeiro subsistem agricultores que produzem alimentos que encontramos em feiras livres e/ou agroecológicas espalhadas pela cidade, porém desconsiderados pelo poder público que trata a cidade como área totalmente urbanizada. A zona oeste da cidade concentra boa parte da produção destes agricultores. Desenvolvida em pequenas propriedades, recebe o nome de agricultura familiar por ser realizada por grupos de famílias – pequenos agricultores e alguns empregados.

Esta prática encontra-se presente nesta região há séculos, gerando saberes e fazeres, que também influenciam nas mais diversas instancias e modos de vida.
Na década de 1930 o artista e escritor Armando Magalhães Corrêa já apresentava esta região como um território que ainda reservava características rurais diante da intensa modernização da cidade do Rio de Janeiro, então capital federal.  Em 1936 Magalhães Corrêa lança o livro “O sertão Carioca” que subjetivamente define, ainda atualmente, a região onde encontramos estes agricultores. Neste território permanecem valores éticos, espirituais, simbólicos, afetivos que estão vinculados à lida com a terra.

Inspirado por estas potencialidades da região, o artista Thiago Modesto desenvolve pesquisa com um olhar focado no “Sertão Carioca” de ontem e de hoje. Thiago é carioca, designer e gravurista, oriundo de família migrante de Santo Antônio de Pádua, noroeste do estado do Rio de Janeiro, estabelecido há mais de três décadas na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.

Trazemos assim um recorte de obras do artista que dialogam com ancestralidades, comunidades originárias e imaginadas, e que possuem forte relação com a agricultura familiar e resistência destas comunidades, e que nos mostram que as características derivadas de festas rurais, como as do ciclo junino, estão ainda presentes em nossos cotidianos urbanos e periféricos.



Bernardo Marques-Baptista